The weekly return to childhood / João Nuno Coelho
Portugal, 2004. The year Portugal organised the European Football Championship: eight grandiose stadiums built from the ground up, two more renovated.
But, across the country, most continue to play on bare, aged and derelict fields.
We are in the realm of the pure, of those who vow an absolute and selfless love for football, their club, hometown and community, for a common passion.
We are light years away from the world of showy-money-driven-football; far from the capitalist spiral that swallowed football and spat out something else; far from the game played in modern stadiums for audiences-consumers of other people’s dreams, popcorn and flashy equipment; far from a sport that is now a media product, created to be the playground of leaders and agents thirsty for more power and money.
Only in the realm of pure football, in the bare and honest or sketchy synthetic fields, can we still live the true passion of football. True passion is not paid for in gold, it requires sacrifice: training after a hard day’s work, injuries, complaints from girlfriends and wives, the sarcasm of those who don’t feel it and, therefore, don’t understand.
At the end of each game, a bifana (a traditional pork sandwich) and a beer to quench the excitement. Immediately the yearning for next Sunday begins, for the pleasure of watching the ball bounce again, the thrill of a (more or less) well-played game, of brave tackles, of goals dreamed of a thousand times, of an unforgettable victory for the home colours.
The secret is pure and shared fun. People doing something together, just because they enjoy and identify with it. Watching and playing ball together, for the mere pleasure, for the love of the jersey – a weekly return to childhood that makes us a little happier and contented.
And that, with the proper political and social vision and action, could also make us better people and citizens.
João Nuno Coelho (b. 1969, Porto) is a football researcher, author, commentator as well as a youth soccer coach. He holds an MA in Sociology, studied football as a social phenomenon while developing an integral vision of the game, including its history, culture and statistical analysis. He’s currently a contributor to TSF, radio station, and to RTP (TV) for the programme A Grandiosa Enciclopédia do Ludopédio. His latest book, Noites Europeias, on the history of European club competitions, was published in Portugal, Spain and Brazil (2013-2018).
No semanal regresso à infância / João Nuno Coelho
Portugal, 2004. O ano da organização portuguesa do Campeonato da Europa de Futebol: oito imponentes estádios construídos de raiz, mais dois completamente renovados.
Mas, por todo o país, a maioria continua a jogar em campos pelados, envelhecidos e sem condições. Estamos no reino desportivo dos puros, dos praticantes do amor desinteressado pelo futebol, pelo clube, pela terra, pela comunidade, por uma paixão partilhada.
A anos-luz do futebol-espetáculo-dinheiro-interesses, longe da espiral capitalista que engoliu o futebol e cuspiu outra coisa qualquer, jogado em estádios modernos à frente de consumidores de sonhos alheios, de pipoca e equipamentos alternativos, mas na verdade pensado para ser acima de tudo produto mediático, coutada de dirigentes e agentes sedentos de mais poder e de mais dinheiro.
Só no reino do jogo da bola, em pelados honestos ou sintéticos manhosos, se pode ainda viver a verdadeira paixão do futebol. A verdadeira paixão não é paga a peso de ouro, exige sacrifício: os treinos ao fim do dia de trabalho duro, as lesões, as queixas das namoradas e esposas, o sarcasmo de quem não sente e por isso não entende.
No fim do jogo, uma bifana e uma cerveja. E a ânsia que chegue outra vez domingo, para que volte o prazer da bola a saltar, o entusiasmo de uma jogada (mais ou menos) bem feita, de um «carrinho» corajoso, de um grande golo mil vezes sonhado, de uma vitória inesquecível para as cores da terra.
O segredo é o divertimento partilhado. Pessoas a fazerem coisas em conjunto, só porque gostam e se identificam. Ver e jogar a bola, juntos, por prazer e amor à camisola, no semanal regresso à infância que faz de nós pessoas um pouco mais felizes. E que, se houvesse uma visão e ação política e social adequadas, podia fazer de nós também melhores pessoas e melhores cidadãos.
João Nuno Coelho (n. 1969, Porto) é um investigador e escritor na área do futebol. É também comentador e treinador de futebol juvenil. Tem um Mestrado em Sociologia e investiga o futebol como fenómeno social, procurando uma visão integrada do jogo que incorpora história, cultura e análise estatística.
Atualmente colabora com a TSF e com a RTP, no programa A Grandiosa Enciclopédia do Ludopédio. O seu último livro, Noites Europeias, sobre a história das competições europeias de clubes, foi publicado em Portugal, Espanha e Brasil (2013-2018).
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Thanks to our speakers João Nuno Coelho, Rui Prata Paulo Catrica and Hans van der Meer for the live premiere.